Não saiu no Verão, sai agora a público em plena época natalícia, tão prenhe de recordações e tradições, o segundo número da revista "Êlhér!", um projecto de dinamização cultural a que João Pedro Fidalgo e outros amigos meteram ombros. A segunda edição está mesmo a chegar e vale a pena uma deslocação no dia 30, à vila raiana, para folhear, ler e desfrutar, em primeira mão, o número dois da Revista Cultural de Montalvão. Temas de grande interesse e capazes de captar a atenção dos leitores não faltam nesta nova "Êlhér!", de acordo com o resumo feito pelo seu director e que gostosamente transcrevemos.
" Um dos documentos mais antigos, e sem dúvida dos mais interessantes sobre Montalvão que se conhece, é o trabalho que Duarte de Armas efectuou em 1509‑10 para o Livro das Fortalezas, desenhando duas vistas panorâmicas de Montalvão. Estas duas ilustrações poderiam ser o mote e a inspiração central deste número da revista, na medida em que se uma imagem antiga funciona como um documento incontornável na procura do que terá sido o nosso passado, a imagem também nos mostra o impacto do desenho e da comunicação visual que para além da riqueza descritiva que os desenhos e ilustrações nos dão, tanto do ponto de vista da reconstituição histórica como do valor estético acrescentado, traz‑nos também a componente apelativa e de fácil leitura que nos agarra facilmente a todos.
Desta forma, podemos com certeza afirmar que um dos pontos altos que este número nos dá, se deve muito, à contribuição que Luís Pedro Cruz e Nicole Jakobs deram na forma como desenharam e ilustraram Montalvão, dando o seu cunho pessoal para a maneira como vemos e olhamos Montalvão a partir das suas obras e estilos diferentes de ver a paisagem urbana e natural.
Se a imagem e mais propriamente o desenho são formas de indiscutível comunicação histórica no caso das ilustrações de Duarte de Armas, que dizer das pré‑históricas gravuras do Tejo que se encontram aqui pelo artigo de Mário Monteiro Benjamim que aborda a sua recuperação e interpretação num projecto para o futuro. Também no que ao poder da imagem diz respeito, chega‑nos um muito bem explicado artigo de Ana Fraústo Morão mostrando‑nos os rituais presentes na adoração naquele que é o principal símbolo religioso montalvanense, que faz mexer toda uma comunidade em seu redor, numa comunhão religiosa que extravasa para a tradicional festa anual da vila.
Num dos pontos fortes que a revista cultiva, a História, destaque para o artigo de Jorge Rosa, que nos conta a história particular de João Tomás Pinto, um ilustre montalvanense, que defendeu, por certo, altos valores como a liberdade e a justiça. Ainda no âmbito da História, e diria também da simbologia histórica montalvanense, temos o esmerado e importante artigo de Luís Gonçalves Gomes que nos apresenta Vasco Fernandes – o último Mestre Templário, artigo que já veio na demanda da escrita para esta revista, à criação de um livro com detalhes e uma investigação irrepreensível por parte do autor.
Um outro dos pontos de confluência que se sublinha neste número da Êlhér!, é a abordagem ao espaço urbano e a interpretação que este nos leva a fazer, tanto do ponto de vista da sua história e da sua implantação, como da forma como se constituiu o povoado na disposição de ruas e na construção das casas de habitação que fazem do lugar as especificidades próprias de afirmação da Vila histórica, que é Montalvão. Neste ponto, é de destacar o texto de António Borges Abel em (A)rriscar em Montalvão, e o artigo de João Fidalgo, Da origem da Vila à Casa Típica em Montalvão que abordam a formação urbana de Montalvão e a tipologia arquitectónica das habitações tradicionais.
Da literatura fica‑nos um retrato intimista escrito por Andreia Costa que nos traz, através da sua prosa, uma viagem às casas e aos espaços dos nossos avós, a um tempo não muito distante de saudades e tempos felizes no regaço dos montalvanenses avós de outrora.
Agora, Êlhér!"